quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Lógica Instrumental - Resolução de Problemas - III

Mais um exemplo de análise de textos

O segundo exemplo descreve a mosca doméstica (fonte: Wikipedia):


A mosca-doméstica (Musca domestica) é um dos insectos mais comuns e um membro do grupo das moscas (ordem Diptera). A mosca pode pousar em comida, contaminando-a de bactérias e tem sido, durante os tempos, responsável por inúmeras propagações de doenças.

A sua larva é muito útil na medicina legal e na pesca. O estado de desenvolvimento da larva pode ajudar na determinação do tempo decorrido desde a morte de uma pessoa.

Uma vez que a larva só se alimenta de carne morta e alimentos podres, surgiram experiências, em ambiente controlado, para introduzir a larva em feridas, eliminando a carne putrefata, evitando a gangrena.

O ciclo de vida de uma mosca varia de 25 a 30 dias.

Esta descrição se aproxima mais do tipo ortodoxo que desejamos, sem atingir minúcias necessárias à identificação deste tipo de mosca dos demais insetos de seu porte e aparência, que com ela poderiam ser confundidos. Fala-se de sua larva e de alguns de seus hábitos, principalmente no que tange à alimentação.


O terceiro exemplo descreve a TV de LED (fonte: Wikipedia):


A LED TV é um televisor que usa vários diodos emissores de luz (LEDs) por trás de um painel LCD. Proporciona melhor contraste de imagem que a LCD com iluminação traseira do por Eletroluminescência (comuns).

Além de maior economia de energia, essa tecnologia permite controlar a intensidade luz por região da tela, proporcionando tons de preto mais naturais (menos iluminados), ao contrário das LCD convencionais que emitem o feixe de luz através de apenas uma grande lâmpada plana.

Esta descrição é, entre os exemplos vistos, a que oferece características de descrição ortodoxa que desejamos demonstrar. É descrita a sua constituição, além da diferenciação para as antecessoras de sua categoria. Também são enumeradas suas vantagens sobre as demais Tvs.

Se esta descrição seguisse o modelo incompleto e “torto” do primeiro exemplo (Porsche), ela faria comparações de valor, e citaria algo como “a TV de LED ganhou o prêmio de melhor TV do ano”.

Considerando os exemplos fornecidos, para a categoria de descrição, podemos propor a análise de cada um.

Análise de uma descrição


A análise de uma descrição se compõe basicamente da enumeração dos atributos da coisa analisada, mesmo que não atendam ao requisito de uma descrição ortodoxa.

Exemplo 1 (O Porsche):

1. Os primeiros modelos são muito valorizados pela sua raridade;
2. Alguns modelos podem atingir o preço de US$ 150 mil;
3. Foi o 10º melhor carro na lista dos melhores da década de 60 segundo a revista Sports Car de 2004;
4. Foi o modelo base para o modelo 911;
5. Poucas unidades vieram para o Brasil;
6. Gerou mercado para réplicas em fibra de vidro.

Seguindo o nosso modelo de Centros de Raciocínio (após este exemplo), podemos classificar cada uma destas características. Infelizmente, não existem, nesta lista, neste exemplo, Centros de Raciocínio Secundários (os mais diretamente relacionados ao centro da ideia de Porsche 356) identificáveis. Segundo nosso modelo proposto, a descrição está mal feita.

Utilizando os buscadores da Internet, e descartando centenas de sites com descrições sem nenhuma condução para o que é realmente o veículo tratado, acha-se o seguinte conjunto de características ortodoxas:


  • Carro conversível com dois lugares de procedência e fabricação alemã;
  • Projetado por Ferdinand Porsche;
  • Produzido entre 1948 e 1950;
  • Motor de 1,086 litros, montado longitudinalmente na parte traseira do carro, com 4 cilindros e 2 válvulas por cilindro;
  • Potência de 66,3 cavalos;
  • Carroceria de aço montada sobre chassi de alumínio;
  • Parabrisa dividido em duas partes por um perfil de aço;
  • Retrovisor montado no centro do painel, na altura do capô dianteiro;
  • Pneus de perfil estreito como usado nos Volkswagen Fusca e Kombi;
  • Volante com 3 aros;
  • Atinge velocidade de 142 km/h;


Estas características descrevem com mais precisão a identidade do carro do Exemplo 1. Não são citados fatos, e sim atributos do veículo.

Vamos interromper os exemplos e expor o método e seus conceitos.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Lógica Instrumental - Resolução de Problemas - II

Análise

A análise exige algo como a “quebra química” de um contexto apresentado. Existe um problema a ser resolvido, algo a ser construído ou então melhorado. É preciso fazer uma análise da situação. Deve-se identificar as entidades presentes no contexto apresentado, bem como as suas relações. Vamos fazê-lo em:


  • Uma descrição;
  • Uma notícia;
  • Um problema proposto;
  • Uma narração;

Abordagem Corporal para Contextos

Os Contextos ou Sistemas possuem partes. Pense no seu corpo. Você tem, se for um homem sadio, basicamente, Cabeça, Tronco e Membros. Mas não pense em partes como “pedaços”. A Cabeça é a parte controladora, e as demais partes tem que se referir a ela. Os braços seriam as partes manipuladoras, e as pernas as partes locomotoras.

Em outras palavras, a Cabeça é a ideia principal que em 99% das vezes corresponde ao Título e ao parágrafo de conclusão. As pernas são as circunstâncias que trouxeram as razões para que se desenvolvesse o texto, e os braços são as providências (se existiram) ou as sugestões para se resolver o conflito ou problema descrito no texto.

Os olhos e ouvidos são uma parte da Cabeça, que captam aquilo que o contexto parece ser ou realmente é. É a Cabeça, na sua inteireza, cuida de discernir se o que é visto e ouvido é Aparência ou Realidade.

Análise nas descrições

Uma descrição bem feita já se encaixa em uma análise completa. Se faltar algum detalhe, o “expert” daquele contexto vai conseguir enumerar o que está faltando.

Vamos ao primeiro exemplo que descreve o modelo 356 da fábrica de automóveis Porsche (fonte: Wikipedia):

Porsche 356 é o nome de uma linha de automóveis produzidos de 1948 até 1965, e é considerado o primeiro carro produzido pela Porsche. “356” faz alusão ao fato deste ser o 356° projeto do escritório de design Porsche. 

Apesar da marca Porsche estar intimamente relacionada ao modelo 911, esses modelos dos primeiros anos da Porsche são muito valorizados hoje em dia, não necessariamente pelo seu desempenho ou esportividade, mas por sua raridade, beleza e valor histórico. Modelos bem conservados, sobretudo conversíveis, podem facilmente atingir cifras além dos 150.000,00 dólares.

Em 2004, a revista Sports Car International elegeu o 356C o 10° melhor carro na sua lista dos melhores da década de 60. Hoje este item de colecionador mantém seu status de carro que resistiu ao teste do tempo, e a maior parte deles ainda roda em ótimo estado. Embora a princípio muito parecido com as derivações do Volkswagen Fusca que surgiram no pós-guerra, o 356 pavimentou o caminho para a formação da marca como é hoje, servindo de base para o desenho do 911, e definindo o paradigma do que se conhece por "Porsche" atualmente. 

Poucas unidades foram trazidas para o Brasil, e o modelo gerou um certo mercado para réplicas de fibra, sobretudo na época da proibição das importações, durante a ditadura.

Esta descrição é do tipo “fala sobre”. O que esperamos de uma descrição ortodoxa é uma lista de atributos da coisa em questão, e não históricos. Mas em defesa de quem produziu este texto vamos dizer que o assunto automóvel ficou tão comum, que ninguém mais se perde em detalhes da sua constituição (lataria, pneus, janelas, volante, etc).

São feitas comparações com outros modelos Porsche, citando sua classificação no ranking dos melhores carros e o seu valor de mercado que, sendo elevado, enaltece a sua posição como carro de destaque.
Neste caso, a análise ficou prejudicada pelo desvio do conteúdo de sua finalidade principal de se  constituir como descrição.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Lógica Instrumental - Resolução de Problemas - I

Operações básicas do Raciocínio

Comparação

Estamos colocando esta operação mental em primeiro lugar pelo fato de ser aquela de maior domínio entre todas as pessoas. A todo o momento estamos fazendo comparações, que são a base para as nossas escolhas. E é da comparação que surge uma das atitudes frente às coisas mais comum de todos os seres humanos: a crítica. No diagrama a seguir representamos esta operação já dentro de um padrão que será utilizado ao longo de todo este trabalho, dentro do princípio de Centros de Raciocínio.

Parece que a tendência do homem é a de criticar TODA e QUALQUER COISA. Em termos científicos isto leva ao progresso, e no pessoal pode levar à destruição.



Em termos gerais, puramente filosóficos, a Comparação fornece a Igualdade ou a Diferença como resultado, sendo a Diferença para Menor (ou menos) ou Maior (para mais). Os resultados Menor, Maior ou Igualdade estão no terreno da pura matemática. Mas em termos de expressão de opiniões em relação às ideias, como demonstrar esquematicamente coisas como Crítica, Elogio e Observação ?
Sendo a Crítica, o Elogio e a Observação coisas de natureza diversa das ideias (ficam na classe das conclusões ou julgamentos) vamos representá-los em cor diversa das convencionadas até agora.



Podemos acrescentar que, em termos de opiniões (coisa que fazemos quase o dia inteiro), o resultado pode ser misto. Você pode, por exemplo, concordar e elogiar uma proposição, e também fazer uma observação, para um possível e cabível Acréscimo.

Em termos de discussão, a Comparação é a última “estação” antes do Julgamento. Pode haver uma síntese posterior, mas ela é realmente a operação mais “nobre” do Raciocínio. Antes da Comparação vem a operação mais complexa e inexplicável do aparelho cerebral: a ANÁLISE. É muito comum se dizer “vamos analisar a situação”.

Graus de semelhança

A maior parte das pessoas sabe lidar somente com IGUAL ou DIFERENTE e uma pequena parcela das pessoas instruídas tem a noção de IGUAL, MAIS ou MENOS e DIFERENTE, sem ter a capacidade de construir uma Escala de Valores, que é o verdadeiro ponto de partida para o método científico: a Escala de Semelhança.

É comum ouvir expressões como “não é nada disto” ou “está tudo errado” para uma situação que admite pequenos desvios. É uma espécie de Radicalismo do Raciocínio, do tipo “É ou NÃO É”, que paralisa completamente qualquer estabelecimento de uma direção e a possibilidade de uma tomada de decisão racional.

Vamos falar mais sobre isto no item “Categorização por Escala”.

Conclusão

A Comparação é a operação de raciocínio humano que demonstra a nossa capacidade de RECONHECIMENTO e DIFERENCIAÇÃO, levando à CATEGORIZAÇÃO, e à consequente produção mental de uma ESCALA de VALORES.