quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

As Ideias e o seu aproveitamento conforme John Locke

Quem não conhece John Locke, procure sua biografia, ou seu livro da recente coleção GRANDES NOMES DO PENSAMENTO editado pela Folha de São Paulo.

Muitas das técnicas utilizadas nas escolas de ontem e hoje tem este filósofo como idealizador.

As Ideias

Vamos colocar a visão de Locke na forma deste gráfico:


Esta é a esquematização da Introdução do livro deste grande autor "Ensaio acerca do Entendimento Humano".

A Ideia

Na visão do autor, a IDEIA é qualquer coisa que passe pela cabeça, melhor dizendo MENTE, do ser humano. Ele as denomina OBJETOS DO PENSAMENTO. É qualquer coisa dominada ou não pela visão ou tato, ou ainda algo virtual que não seja tocado ou visível (como emoções, sensações, conceitos, etc).

Segundo Locke, o método para chegar ao entendimento envolve 3 processos:


  1. Procurar as origens da Ideia, noção, conceito que caiba em Objeto do Pensamento;
  2. Mostrar qual o conhecimento associado a esta Ideia;
  3. Fazer uma investigação acerca da natureza ou opiniões acerca desta Ideia;

1 - Origens

As origens estão enumeradas no diagrama, e devemos fazer uma ressalva, lembrada pelo teórico John Dewey ("Como Pensamos"). Muito cuidado com Ideias originadas de vínculos não necessariamente lógicos, como tradições da tribo, tradições de família e consensos sociais, pois nem sempre estas origens são confiáveis.

As fontes citadas aqui são:

  1. Narração do descobrimento da Ideia;
  2. Fato histórico/social que estabeleceu a Ideia;
  3. Derivação de uma Ideia já existente:
    1. Substantivação;
    2. Adjetivação;
    3. Alteração de Contexto


Na narração do descobrimento está, por exemplo, o fenômeno da Radiação, quando Pierre e Marie Curie fizeram seus experimentos com o elemento Radio.
Em fato histórico/social estão coisas como a primeira e segunda guerra mundial, o 11 de setembro (onda de terror).
Nas derivações de ideias, temos que explicar a alteração de contexto. Por exemplo, existe o pisar na bola no futebol. Nas relações conjugais ou de amizade, o pisar na bola seria uma Traição, uma Mentira, etc.

Vínculos não necessariamente lógicos
Estes são os descritos por Dewey, e que complementam Locke. Os exageros estão entre eles. Um muito comum, utilizado em discussões sobre existência ou não de Deus é:

"Se acreditar em Deus vou ter que acreditar em fadas, duendes, unicórnios e discos voadores"

Sobre Deus, a capacidade de experimentação científica ainda não dá condições de negá-lo, pois se apresenta como espírito. Nem sequer a alma foi mostrada como algo palpável. Fadas são metaforizações de pessoas boas, mulheres piedosas e bondade. Duendes tem uma caracterização parecida, personificada em seres diminutos. Unicórnios podem ser gerados via engenharia genética, como o rato em que fizeram nascer uma orelha humana. Discos voadores não foram provados como não existentes. O que mais se tem evidência é que existem. Portanto, a frase é só uma piada sem sentido.

2 - Conhecimento

Nosso fraco e falho Conhecimento das coisas, devido às exceções de Dewey, nos leva aos três tipos de Ideias mostrados no diagrama:

  • Ideia Correlata;
  • Ideia Parecida;
  • Ideia Enganosa;

O leitor deve estar se perguntando a respeito do porquê de termos enumerado as "Ideias Enganosas" no rol das categorias do conhecimento. Basta ler as respostas imbecis dadas em blogs, no Youtube e outros para ver que precisamos incluí-las, já que as opiniões muitas vezes contém este tipo pernicioso de conteúdo. O exemplo de Deus e dos duendes é algo do tipo. O erro de tal ideia é a mistura de contextos (espiritual com mitológico). Chamamos a mistura de lógica e absurda de "falso conhecimento". Outros chamariam de infantilidade, e outros de "conhecimento podre".

As ideias enganosas podem vir de metáforas e de trocadilhos. Por exemplo, "Tempo é Dinheiro" nem sempre é verdade, como no caso de fatos e eventos de caridade, amizade, afeto, amor, etc. O trocadilho

"O cachorro late, o gato mia, o coelho pula e a batata palha"

não estabelece uma verdade. É apenas uma colocação de pares substantivo/verbo, que no final é trocada por substantivo/adjunto adnominal.

"Socialite é um sócia que não engorda"

não estabelece verdade, nem é uma definição válida, apenas uma oposição de ideias.

"Em festa de cobra, veneno é suco"

não é uma verdade, apenas contém a representação das pessoas perversas pelo animal cobra, e se refere à uma bebida de festa como podendo ser o veneno deste animal. É uma comparação absurda, nada mais.

Todos estes são exemplos de verdades enganosas, que misturam realidade e fantasia, com o puro propósito de promover a arte com a escrita.

3 - Investigação

A Investigação é uma experimentação de conhecimentos, que para produzir resultados criativos deve ser livre, pois às vezes os melhores resultados saem das combinações mais absurdas. Estamos nos referindo às combinações de Ideias Enganosas com as Ideias Correlatas ou com Ideias Parecidas.

Um bom exemplo foi a primeira concepção da Tela de TV. Foi utilizada a Ideia do olho humano. No entanto, o olho RECEBE imagens do mundo exterior, e a Tela de TV emite imagens para o exterior. Mas o princípio de detecção por células sensíveis à cor no olho, foi aplicado aos pontos emissores de luz. Ou seja, ocorreu a utilização de princípios contrários, e deu certo, Detecção se opõe à Emissão. São Ideias opostas, porém correlatas.

A Investigação é o nome que damos às múltiplas experimentações que fazemos com os três tipos de Ideias que relacionamos no diagrama, conforme ilustrado.

Algo desta espécie ocorreu na investigação do Eletromagnetismo. A eletricidade era uma Ideia associada à excitação dos corpos de forma à acumular cargas positivas ou negativas. O magnetismo se associava à atração de "estranhas pedras" ao ferro. Não havia associação entre ambos. A mente humana, ao conceituar e definir as coisas pode se exceder em separar demais uma coisa das outras. Mas quando se descobriu que o movimento dentro de um campo magnético produzia eletricidade, constatou-se que estas duas ideias estavam ligadas no eletromagnetismo. Ou seja, duas ideias aparentemente distantes se mostraram correlatas.

O que estes pares de Ideias produzem, antes que se confirmem verdadeiros, são Opiniões somente. Poderíamos ter triplas de Ideias. E devemos ter cuidado com as opiniões, pois podem se configurar em verdadeiras superstições ou associações aparentemente verdadeiras à primeira vitsa.

Alguns exemplos são, no campo da alimentação, o aparente mal que poderia fazer a associação de leite com manga ao mesmo tempo, comer mais de um ovo por dia e tomar café demais. Todas estas crenças duraram muitos anos, sendo que a última durou até recentemente. Isto porque não se fazia as experimentações corretas, e as gerações iam passando o falso conhecimento porque lhes parecia bem razoável como VERDADES HERDADAS.

Escolha das Opiniões

Como mostra o diagrama, certos pares de ideias não forneceram opiniões, porque certamente são associações muito absurdas. Um caso estranho seria o par IC2 e IC3, pois é um par de ideias correlatas à que está sendo discutida. No entanto, as duas juntas não levam a nenhuma conclusão, e vão precisar de uma terceira que as conecte.
É como numa discussão, onde as pessoas colocam ideias associadas ao assunto, mas que juntas não formam algo coeso que leve a nenhuma direção. Daí é necessária uma tríade de ideias.

Cuidado com as suas opiniões

Devemos submeter as opiniões à Investigação, lembrando que, num determinado momento, as provas podem ser suficientes, e algo é provado como FACTÍVEL, porém não EXISTENTE. E, mais tarde, com novas Investigações, chegamos à prova do Existente. O INEXISTENTE, porém, é mais difícil de provar, pois sempre teremos novas Associações ou novas Ideias. E o surgimento de novas Ideias multiplica sobremaneira as Associações possíveis. Portanto, cuidado com as suas Opiniões, pois podem se constituir em VERDADES ADQUIRIDAS e sobreviverem aos tempos, como o leite com manga.

O melhor diagnóstico sobre esta visão do método investigativo de Locke é a frase de um aluno de Filosofia em sala de aula:

A Ciência é muito boa para provar a Existência,
mas absolutamente falha para provar a Inexistência

As melhores conclusões saem da boca dos principiantes, por não estarem carregados de ideias pré-fabricadas.








Um comentário:

  1. Os livros sobre lógica usam abordagem para informática. Eu nunca vi um destes livros citar John Locke. Pois então eu imagino ou que eles nunca ouviram falar deste autor, ou leram o seu livro (consegui na Internet, mas escanearam página dupla, e a impressão fica uma B....) e não entenderam bulufas.

    No livro não tem este diagrama, mas a interpretação ficou muito boa. Espero que o dono do blog escreva mais sobre este ingles.

    Agora pensa bem, nos anos 1600, sem computador, sem nem sequer ciência da computação, o mundo andando na carroça, alguém pensou tão claramente sobre uma matéria que só surgiria quase 400 anos depois. O cara não é só um filósofo, mas um profeta.

    ResponderExcluir