sábado, 13 de fevereiro de 2016

Primeiras noções sobre Entendimento, por John Locke

O que será lido aqui é fruto do raciocínio de um filósofo cuja atividade mais profícua se deu nos anos 1650-1690. Vocês mesmos vão avaliar sua agudeza de pensamento.

O Entendimento e a Visão

O Entendimento, como o Olho, que nos faz Ver e Perceber todas as outras coisas, não se observa a si mesmo. Requer arte e esforço situá-lo à distância e fazê-lo seu próprio objeto.
Temos que observar o nosso Entendimento de fora. Podemos observar duas pessoas conversando algo ambíguo, e ver nesta conversa as nossas próprias deficiências de expressão.
Em resumo, isto nos colocaria diante da pergunta:
Você percebe qual é o seu método de pensamento ?

A Extensão de nossa Compreensão

Locke fala do nosso controle nas discussões.
O indivíduo deve usar mais cautela quando se envolve com coisas que excedem a nossa compreensão, PARAR quando o assunto é muito extenso para as nossas forças e PERMANECER EM SILENCIOSA IGNORÂNCIA acerca dessas coisas cujo exame revelou estarem fora do alcance de nossas capacidades.
Isto é facilmente percebido em conversas sobre a medicina e a fé, pois envolvem fatores que agem diretamente na vida humana e na alma.

O Entendimento e a Presunção

Se o nosso Entendimento for prejudicado pela nossa Presunção de um conhecimento Universal (Ciência e Verdades adquiridas), estaremos sendo precipitados, e então entraremos em DISPUTAS SOBRE COISAS PARA AS QUAIS NOSSOS ENTENDIMENTOS NÃO SÃO ADEQUADOS, e das quais não podemos formar em nossas mentes nenhuma percepção clara e distinta.

Isto ocorre frequentemente quando tentamos aplicar Princípios de um campo do Conhecimento em outro completamente diverso. Um bom exemplo é o esforço infrutífero de pesquisar os campos magnéticos produzidos pelos diversos humores da alma. Tal é o caso das FOTOS KIRLIAN, para as quais existem aplicativos de celular. É algo que induz o ser humano ao engano, e que vai prejudicar seu raciocínio sobre estes dois campos: CIÊNCIA e VIDA.

Outra Confusão viria da tentativa de pesquisar os Campos magnéticos/energéticos da Ética e Conduta humana. É preciso ter o senso de ridículo, para não pularmos do Entendimento para a Loucura.

Se pudermos descobrir até onde o Entendimento pode se estender, e até onde suas faculdades podem alcançar a Certeza, e em quais casos ele pode apenas JULGAR, TEORIZAR e ADIVINHAR, saberemos nos contentar com o que é alcançável por nós em uma situação.


O Entendimento e o Contexto

Os homens deveriam estar bem satisfeitos com o que a Natureza pensou que lhes era adequado, pois esta lhes deu, como diz São Pedro,TUDO O QUE É NECESSÁRIO PARA AS CONVENIÊNCIAS DA VIDA e informação da virtude, e colocou ao alcance de sua descoberta PROVISÃO SUFICIENTE PARA ESTA VIDA e o meio que leva para uma vida melhor.

Em resumo, tudo o que precisamos para compreender o mundo está no próprio mundo. O mundo fornece as ferramentas necessárias para a solução de problemas que nele aparecerem.

Às preocupações humanas mais importantes dos homens é assegurada luz suficiente para alcançar o conhecimento da natureza e de seu Criador.

Sobre nossas limitação mentais

Não teremos motivos para nos queixar da estreiteza de nossas mentes se as empregarmos tão somente no que nos é utilizável e para o que são muito capazes; pois nos será apenas imperdoável, como impertinente criancice, se menosprezarmos as vantagens de nosso conhecimento e descuidarmos de aperfeiçoá-lo para os fins aos quais nos foi dado, porque certas coisas se encontram fora do seu alcance.

Ou seja, se não atingimos o grau de conhecimento necessário para compreender um determinado contexto de um problema, não devemos nos lamentar de não sermos capazes de resolvê-lo naquele momento, abandonando-o por completo, e diagnosticando nossa mente como incapaz. Devemos pacientemente procurar mais conhecimento sobre o assunto.

A Vela que foi colocada em nos brilha o suficiente para todo os nosso Propósitos

Tal estado de incapacidade (temporária) da nossa mente, de imaturidade frente às verdades mais superiores da vida , pode ser exemplificada na situação do jovem, durante sua vida escolar, aprendendo aqueles problemas redutíveis às equações do primeiro grau, quando é colocado frente aos avançados conceitos de DERIVADAS e do CÁLCULO INTEGRAL. Tais conceitos, naquele momento, parecem inalcançáveis e até irreais, do quilate de mitos, de poderes sobrenaturais, mas apenas pelo fato da sua mente não estar suficientemente preparada para lidar com uma manipulação abstrata tão elaborada. É como uma espécie de cegueira matemática (falamos disto em "Entendimento e Visão") temporária, uma falta de base com apoios adequados para sustentar sua Compreensão.

Descrença

Se descrermos de TUDO porque não podemos conhecer rigorosamente TODAS as coisas, deveríamos fazer igual AQUELES QUE NÃO USAM AS PERNAS, PERMANECENDO PARADOS E MORRENDO, pelo fato de QUEREREM VOAR E NÃO TEREM AS NECESSÁRIAS ASAS.

Ou seja, porque não admitir que, naquele momento da vida, você não tem a maturidade necessária para compreender determinadas verdades ?

O poder da mente

Quando tivermos examinado com cuidado OS PODERES DE NOSSAS MENTES, e feito alguma avaliação acerca do que podemos esperar deles, não tenderemos a ficar inativos, deixando de por nossos pensamentos em atividade, pelo DESESPERO DE NADA CONHECERMOS; nem, por outro lado, poremos tudoem dúvida e renunciaremos a todo conhecimento, porque algumas coisas são compreendidas.

É de grande utilidade para o marinheiro saber a extensão de sua linha, embora não possa com ela sondar vtoda a profundidade do oceano. Nosso conhecimento não cobrirá toda a extensão das coisas que devem ser compreendidas, mas pelo menos servirá para medir aquilo o que é do nosso uso comum.

Opiniões, Disputas e Descrença

Não é de admirar que os homens levantem questões e multipliquem disputas acerca de assuntos insolúveis, servindo apenas para prolongar e aumentar suas dúvidas, e para confirmá-los, ao fim, num PERFEITO CETICISMO.

Por isto, devemos restringir nossas perguntas a um horizonte próximo, antes de avançar para o seguinte. Vamos a um exemplo. Perguntar onde está Deus é algo muito distante. Devemos primeiro entender a alma. Mas se a compreensão desta se torna muito distante, devemos procurar compreender o Caráter e a Personalidade do Ser Humano, antes de tentar atingir a Alma que lhe dá a vida, que mesmo num corpo sadio, pode deixar de existir.

O homem deveria reconhecer a sua IGNORÂNCIA acerca de umas coisas, e empregar seus pensamentos e discursos com mais proveito e satisfação na resolução de outras.

Conclusão

O homem deve compreender seus limites em relação ao entendimento de todas as coisas.


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