terça-feira, 15 de agosto de 2017

Exemplos de diálogos - II - Discussão

No primeiro exemplo mostramos alguns aspectos básicos de um diálogo.

Neste post mostraremos um diálogo que tem um certo grau de discussão, e esta não envolve assunto muito polêmico, por enquanto.

Exemplo

- Mônica, você viu o filme da entrevista com o ET no Youtube ?:
- Edu, cê perde seu tempo com isso ?
- E esses filminhos de cassetadas que você recebe ?
- Ah, é prá eu rir um pouco. Vai dizer que cê num assiste também. Vai dizer que é muito sério e só assiste coisa útil.
- Esta "bobajada" que você assiste eu nem abro.
- Então prá que tá me perguntando se eu vi filminho de ET ? Daqui há pouco vai me pedir prá assistir  filmes de Astrologia !
- É diferente. Dizem que vazou uma entrevista mesmo com um ET na Rússia. Tem uma certa seriedade.
- Alienígena não é assunto sério.
- Só porque é de alienígena não é sério ?
- Tô estranhando você defendendo esse tipo de assunto !
- Você tem que separar as coisas. O video não pretende ser coisa de ficção, Se fosse besteira eu não tava te perguntando.
- Mas você disse que eu só assisto "filminho de cassetada" !
- Esquece então que eu disse isso. Você então não viu, né ?
- Não.
- Esquece então.

Objeto do diálogo

O objeto do diálogo é um filme que trata de uma entrevista com um ET.

Envolvidos

Devido ao grau de intimidade do diálogo, em que ambos se sentem livres para fazer críticas, um ao outro, e ao conhecimento de hábitos entre si, evidentes nas frases "E esses filminhos de cassetadas que você recebe ?" e "Tô estranhando você defendendo esse tipo de assunto", devemos deduzir que ambos tem uma certa intimidade de colegas que se encontram frequentemente ou de amigos.

Estabelecendo o Local do diálogo

Não existem evidências do local.

Estabelecendo Tempo do diálogo

Não existem evidências da hora em que o diálogo ocorreu.

Constatando os Desvios do objetivo

Vê-se claramente que a personagem Mônica é suscetível a desviar a conversa para o conflito, e não para o entendimento. A prova é que o diálogo termina sem a discussão do ponto central, que era justamente o filme da entrevista do ET. Isto ocorre com grande frequência em nossa sociedade, pois herdamos uma veia de deboche e gozação, e isto tem prejudicado seriamente o andamento do progresso de nosso país. Reuniões e Grupos de Trabalho se perdem em conflitos, e pouca coisa se transforma em Projeto.

Percebemos claramente o uso dos conhecidos MAUS ARGUMENTOS enumerados por Ali Almossavi, em seu "Livro ilustrado dos maus argumentos".

Mau argumento 1

É o chamado "ad hominem", evidente já no princípio do diálogo: "Edu, cê perde seu tempo com isso ?". Mônica, claro que não com maldade, pois sabemos que são colegas ou amigos, ataca a honra de Edu, menosprezando-o por assistir aquele tipo de filme. Alias, no início do diálogo, ela ainda não sabe exatamente o tema tratado no filme que é objeto do diálogo.

Mau argumento 2

Edu, para não ficar atrás, usa o mesmo tipo de argumento "ad hominem", quando pergunta: "E esses filminhos de cassetadas que você recebe ?". Ele está procurando denegrir o "gosto" visual midiático de Mõnica, para rebater uma crítica recebida.

Mau argumento 3

Edu volta a atacar a honra da colega na frase "Esta "bobajada" que você assiste eu nem abro". É o mesmo "ad hominem" com a intenção de desmoralizar a outra pessoa do diálogo.

Nota:

Estes três maus argumentos não contribuem para a discussão, fogem ao escopo do objeto em pauta, e demonstram a pequeneza dos seres humanos, quando ao invés de usarem a inteligência para tecer argumentos, partem para as agressões, por despeito ou preguiça.

Mau argumento 4

É do chamado "Espantalho". O emissor, no momento, durante o diálogo, constrói uma caricatura do objeto de discussão. Na frase "Daqui há pouco vai me pedir prá assistir  filmes de Astrologia !", a caricatira do assunto é a Astrologia. Mas seria então o assunto que trata de alienígenas mais nobre que a Astrologia ? Como a Astrologia é uma ciência mais velha, já mostrada como sendo muito imprecisa, e frequentemente dada a falhas, aqui houve uma REDUÇÃO de status intelectual da conversa.

Então, a Astrologia é o "espantalho" da ideia dos alienígenas, ou seja, é como se o locutor estivesse dizendo: "conversar dobre Alienígenas é o mesmo que conversar sobre Astrologia".

Sabemos, no entanto, que os dois assuntos são completamente diferentes. O locutor pretende, realmente, desviar o assunto para algo mais comum, chulo e já comprovadamente falho, para "ganhar" logo a discussão.

Isto se constitui em diálogo de baixo nível intelectual. Ao baixar o parâmetro da conversa, seu nível intelectual abaixa também.

Mau argumento 5

O locutor, desta vez, é explícito, no caso Mônica, que sentencia: "Alienígena não é assunto sério", no que é denominado "Apelo à autoridade irrelevante". Ora, quem é Mônica para proferir uma sentença condenatória para a possibilidade da existência de alienígenas (pois por detrás desta sentença está a afirmação monocrática de que os alienígenas não existem).

Mônica, pelas informações do texto, não tem o grau de mestre, doutora ou algo do gênero, pois senão ela reclamaria ter a autoridade maior que a de seu colega para proferir a sentença de inexistência de ETs. E ela teria que se basear, pelo menos, em uma estatística obtida a partir de uma amostra significativa de planetas em que não tenha sido observada a presença de seres inteligentes. Em outras palavras, estamos distantes de tal amostra, pois o homem foi, no máximo, até a Lua.

Comentários

O diálogo não cumpre o objetivo, que seria uma troca de comentários construtivos sobre o dito filme da entrevista do ET em algum lugar do território russo. Os envolvidos utilizam vários maus argumentos, se desviando do objketivo, e testemunhando mal sobre a inteligência humana.

Conclusão

Os locutores, em um diálogo, não devem atacar a honra, a dignidade, a capacidade e os atributos de caráter, uns dos outros, e sim apresentar argumentos sobre o objeto em discussão. Esta é a característica determinante de um diálogo entre pessoas dignas de serem chamadas de sábias.



Nenhum comentário:

Postar um comentário