Exemplos de diálogos - I

Os diálogos se constituem em EVENTOS DE COMUNICAÇÃO VERBAL que coroam a capacidade humana de expressão, entendimento, raciocínio, elaboração mental, teste de padrões e ferramenta de compreensão e resolução de problemas.

Método

Usaremos o melhor método para a a compreensão do assunto, que é o exemplo.

Exemplo

O exemplo a seguir se dá em um contexto de ligação telefônica, com todas as suas dificuldades inerentes, qual seja a da distância e da ausência de um referencial visual presente. Este tipo de contexto exige um pouco mais dos interlocutores, e serve para que ambos usem seus conhecimentos do local a ser combinado, bem como de suas habilidades de descrição:

- Ei Lu !
- Oi Fernando. Uai, você me ligando a esta HORA ? E seu ronco de almoço ?
- É. Feriado longo. Já descansei muito. Tô sem nada mesmo prá fazer. Vamos "num" café ?
- Tô meio ocupada aqui em casa.
- Que que cê tá fazendo ?
- Lavando minha roupa.
- Mas isso vai te tomar a TARDE toda ?
- Não. Mas vou dar duas lavadas. É muita roupa.
- Dá prá cê dar só uma lavada, a gente sai, e na volta cê lava o resto ?
- Posso sim. Preciso sair também. Como você disse, o feriado é longo, e vou acabar ficando estressada em casa. Meus irmãos viajaram, e eu tô sozinha.
- De QUANTO TEMPO você precisa ?
- Enquanto a máquina lava, vou tomando banho. O ciclo dela demora 54 minutos. Nesse tempo eu me preparo.
- Prepara mesmo ?
- Sou uma mulher prática. Sou quase um homem, de tanta objetividade. Não vou lavar a cabeça hoje. Meu banho é de 10 minutos, e eu visto muito rápido. Como você é só um amigo, não vou ficar linda não. Onde a gente se encontra ?
- Em qual café você gostaria de ir ?
- Um que fosse aqui perto de casa.
- Me fala então, e tá combinado.
- Sabe aquele "quase Shopping" na avenida perto aqui de casa ?
- Não.
- Ninguém sabe mesmo, porque nem parece Shopping, de tão pequeno. Vindo aqui prá casa, tem aquela avenida que acaba na BR, não tem ?
- Sei qual é.
- Pois é. Depois da rotatória, a única da avenida, você vai ver um monte de lojinhas em uma rua à  esquerda. O café chama "Expresso da meia noite".
- Aceita cartão alimentação ?
- Cê tá sem grana ? Eu pago prá você, afinal tem muito tempo que a gente não conversa.
- De jeito nenhum. Só queria saber prá me planejar.
- Já vi aquelas bandeirinhas de cartão refeição. Se não aceitar o seu, eu pago.
- Tá bom. Cê me liga na hora que for sair ?
- Ligo uns minutos antes de ficar pronta, POIS VOCÊ VEM DE MAIS LONGE. Você vem de carro ?
- Não; de Uber.
- Se você vier de carro, mais tarde a gente sai prá outro lugar. Você coloca ele na garagem do meu prédio, e ai a gente pode dar uma volta mais longe depois. Também tô sem nada prá fazer.
- Carro ? Tô com preguiça de dirigir.
- Se isso te anima, vou pagar seu café e o que a gente comer depois, prá cobrir sua gasolina.
- Não, Lú, sua companhia é o que conta.
- Então você escolhe o lugar da gente ir, mais tarde, tá legal ?
- Beleza. Mas se você escolher, prá mim não tem problema. Eu quero é companhia hoje.
- Tá. Vou desligar e me preparar. Um beijo.
- Falou. Obrigado. Tchau.

Estabelecendo o contexto

O diálogo é um típico de ligação telefônica. É objetivo. Não tem narração de um evento, mas tão somente o mínimo para cumprir o OBJETIVO. Este Objetivo é de encontrar um ao outro, os envolvidos, com o mínimo de informação que não os faça se desencontrarem, em um LUGAR, e ao mesmo TEMPO.

O LOCAL de encontro não é o contexto, e sim o ALVO do encontro. Não se deve confundir uma coisa com a outra. O contexto é, então, o âmbito de uma ligação telefônica.

Estabelecendo o Tema do diálogo

O Tema do diálogo é um ENCONTRO, com suas dimensões de LOCAL e TEMPO, suficientes para que o mesmo ocorra sem enganos.

Emissor e Receptor

Em um diálogo eles se alternam. Ambos, neste caso, são amigos, conhecem a identidade do outro, portanto pularam a fase de identificação própria.

Estabelecendo o Tempo em que o diálogo se deu

Temos algumas pistas, como "E seu ronco de almoço ?", "Vamos 'num' café ?", "isso vai te tomar a TARDE toda ?".

Estabelecendo o Local

Como se trata de conversa telefônica, não temos o local do diálogo, pois o telefone extrapola e une locais distantes. Temos o ÂMBITO de uma ligação telefônica. Cada um está em sua própria casa. Se tomarmos como referência a casa de Lú, sabemos que a casa do seu amigo fica distante, pista dada por "POIS VOCÊ VEM DE MAIS LONGE".

Nestes tempos do Google Maps, não existem problemas de local para encontros. Provavelmente pelo grau de amizade dos dois, demonstrado em alguns momentos, pela harmonia do diálogo, eles preferiram utilizar referenciais conhecidos por ambos para marcar o LOCAL DO ENCONTRO.

Comentários

Vê-se que o diálogo se dá entre duas pessoas instruídas, pois uma se preocupa com a outra, e ambos estabelecem uma estratégia para se encontrarem no tempo devido de cada um, de modo a não prejudicarem suas tarefas do momento. Também existe a preocupação com o pagamento das despesas por parte de Fernando, naquilo que conhecemos como O COMBINADO NÃO SAI CARO.

Amigos devem se preocupar com este dificultador social chamado dinheiro.

Este diálogo mostra uma estratégia para que o encontro ocorra, extrapolando as simples dimensões de TEMPO e LOCAL da combinação contida na comunicação entre os interlocutores, preocupação que todos deveriam ter.

Conclusão

Um diálogo é mais que uma troca de falas. Um diálogo é uma trama com Objetivo, que demonstra a habilidade de raciocínio dos interlocutores. Ele tem uma estratégia interna demonstrada, para torná-lo bem feito.