terça-feira, 16 de agosto de 2016

A razão ética da existência do tempo

Quando se discute a respeito do tempo, as pessoas costumam adentrar em parâmetros e verdades da física para fazê-lo.

Marcas do Tempo

Mas em termos físico-humanos, o tempo produz marcas, que são identificadas como uma medida do envelhecimento da máquina física. Em nossa espécie, este envelhecimento é reconhecido como MATURIDADE. Não somos como um motor de automóvel ou de avião, que se torna ineficiente para a função que foi projetado. Um velho pode estar em uma cadeira de rodas, mas a sua sabedoria tem uma função imensurável. Vejam o caso de Stephen Hawking, cuja contribuição científica extrapola limites físicos. Tem muita gente com muita saúde física que é incapaz de fazer um cálculo simples que seja.

Tempo e vida

O tempo da meninice e da juventude só existe para consolidar a identidade parental da pessoa, o significado de Casa e de Família. E no momento em que a pessoa começa a agir conscientemente, ela está construindo sua real identidade. A real identidade só começa quando a pessoa descobre o seu dom e o seu papel no contexto em que vive. Antes disto, ela está apenas passando o seu tempo nesta terra.

A vida tem que ser finita

Marguerite Yourcenar, em seu livro "Todos os homens são mortais", mostra com excelência os efeitos da imortalidade, e as consequências da mesma sobre a vida de um homem. A pior é a de numerosas e incontáveis vezes a pessoa ter que chorar sobre o túmulo de seus cônjuges, pois o protagonista do romance permanece vivo, enquanto as esposas vão envelhecendo, até morrerem.

Ou seja, precisamos ser iguais aos outros. Precisamos desgastar fisicamente como os outros, para não incorrer em verdadeiras anomalias de relacionamento humano.

E se todos nós temos a mesma média de expectativa de vida igual, por que um fim ? Um poeta já disse que "não há nada de novo debaixo do sol". Sem tecer detalhes, sabemos que, exceto pela tecnologia, o curso de vida de uma pessoa é bem previsível. Após muitos anos, a vida produz enfado, e o próprio ser humano se cansa de viver, mesmo que esteja com saúde, pois NADA É MAIS NOVO PARA ELE. Mesmo que sua vitalidade fosse "congelada" à vitalidade de seus 30 anos, após viver muito, ele não teria mais interesse em coisas de sua idade, como festas, sexo oposto, realização profissional, etc.

Existe uma duração ótima para tudo. Nenhuma fase deve ser eterna. Deve haver uma sucessão das fases, até que você complete o "Curso da vida na Terra". O nosso curso fundamental tem 9 anos, o médio 3, o superior 4 ou 5, e dai por diante. Você não fica eternamente em um deles, Deve sempre passar prá frente.

Tempo e Memórias

tempo se relaciona à própria identidade das pessoas, pois esta depende de algumas memórias para ditar seu comportamento. A cadeia de ideias é:

Tempo >> Vivência >> Experiências >> Memória

Nossas experiências são armazenadas na memória, e esta serve de "enciclopédia" de opções que levam ao êxito e opções que levam ao fracasso. Podemos melhorar nossas decisões frente às situações conhecidas, parecidas com as conhecidas e a novas, baseados em inferências.

Esta capacidade de decidir baseada em memórias, ou no que elas provocam, é uma medida de nossa coerência e também de audácia. A coerência dá às pessoas que convivem conosco uma previsibilidade de como iremos agir. A pior coisa que existe em relação a um companheiro ou companheira é um ato imprevisível de nossa parte. Isto provoca desentendimentos e até o rompimento da relação.

Perda de Memória

E se a memória for perdida ? O sujeito não é mais previsível. Torna-se errante em suas decisões. E se não tem mais esta coerência entre o que é (ou era) e o que decide, perde sua IDENTIDADE. É como se o Tempo que viveu não tivesse existido mais para ele. Para os que o observam, aquele Tempo do indivíduo faz sentido, pois se lembram de sua história, mas ele mesmo não.

Memória e Identidade

Se você perde o seu documento de identidade, e não existe mais forma de levantar quem foi seu pai e sua mãe, ou a data de seu nascimento, ou o local onde nasceu, sua identidade está definitivamente perdida. Esta é a associação entre memória e identidade, e é pela possibilidade de coisa deste tipo acontecer que existe um departamento no estado que guarda as informações de registro das pessoas.

Tempo e Identidade

Portanto, se não houver uma linha do tempo na vida da pessoa (e assim o Facebook chamou o conjunto de posts que a pessoa faz em seu perfil: Linha do Tempo), não há espaço para experiências em uma quantidade razoável para que se analise a sua evolução como indivíduo separado dos outros.

Conclusão

O Tempo é necessário, para que se tenha uma expressão individual de alguém, em um número razoável de situações, para que se possa analisar seu comportamento, previsibilidade, e para que a pessoa possa ser reconhecida pelas informações factuais que ela mesma construiu.
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A razão para a discussão desta relação entre o tempo e a ética neste blog de lógica se deve ao fato do Tempo ser um parâmetro frequente para a análise dos contextos lógicos dos problemas, pois estes últimos sempre surgem no contexto da vida das pessoas. A vida das pessoas é que motivou o nascimento e o estudo da lógica. A Lógica frequentemente analisa o antes e o depois, presentes em quase todos os problemas, desde os sociais até os matemáticos.

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