terça-feira, 16 de agosto de 2016

A razão ética da existência do tempo

Quando se discute a respeito do tempo, as pessoas costumam adentrar em parâmetros e verdades da física para fazê-lo.

Marcas do Tempo

Mas em termos físico-humanos, o tempo produz marcas, que são identificadas como uma medida do envelhecimento da máquina física. Em nossa espécie, este envelhecimento é reconhecido como MATURIDADE. Não somos como um motor de automóvel ou de avião, que se torna ineficiente para a função que foi projetado. Um velho pode estar em uma cadeira de rodas, mas a sua sabedoria tem uma função imensurável. Vejam o caso de Stephen Hawking, cuja contribuição científica extrapola limites físicos. Tem muita gente com muita saúde física que é incapaz de fazer um cálculo simples que seja.

Tempo e vida

O tempo da meninice e da juventude só existe para consolidar a identidade parental da pessoa, o significado de Casa e de Família. E no momento em que a pessoa começa a agir conscientemente, ela está construindo sua real identidade. A real identidade só começa quando a pessoa descobre o seu dom e o seu papel no contexto em que vive. Antes disto, ela está apenas passando o seu tempo nesta terra.

A vida tem que ser finita

Marguerite Yourcenar, em seu livro "Todos os homens são mortais", mostra com excelência os efeitos da imortalidade, e as consequências da mesma sobre a vida de um homem. A pior é a de numerosas e incontáveis vezes a pessoa ter que chorar sobre o túmulo de seus cônjuges, pois o protagonista do romance permanece vivo, enquanto as esposas vão envelhecendo, até morrerem.

Ou seja, precisamos ser iguais aos outros. Precisamos desgastar fisicamente como os outros, para não incorrer em verdadeiras anomalias de relacionamento humano.

E se todos nós temos a mesma média de expectativa de vida igual, por que um fim ? Um poeta já disse que "não há nada de novo debaixo do sol". Sem tecer detalhes, sabemos que, exceto pela tecnologia, o curso de vida de uma pessoa é bem previsível. Após muitos anos, a vida produz enfado, e o próprio ser humano se cansa de viver, mesmo que esteja com saúde, pois NADA É MAIS NOVO PARA ELE. Mesmo que sua vitalidade fosse "congelada" à vitalidade de seus 30 anos, após viver muito, ele não teria mais interesse em coisas de sua idade, como festas, sexo oposto, realização profissional, etc.

Existe uma duração ótima para tudo. Nenhuma fase deve ser eterna. Deve haver uma sucessão das fases, até que você complete o "Curso da vida na Terra". O nosso curso fundamental tem 9 anos, o médio 3, o superior 4 ou 5, e dai por diante. Você não fica eternamente em um deles, Deve sempre passar prá frente.

Tempo e Memórias

tempo se relaciona à própria identidade das pessoas, pois esta depende de algumas memórias para ditar seu comportamento. A cadeia de ideias é:

Tempo >> Vivência >> Experiências >> Memória

Nossas experiências são armazenadas na memória, e esta serve de "enciclopédia" de opções que levam ao êxito e opções que levam ao fracasso. Podemos melhorar nossas decisões frente às situações conhecidas, parecidas com as conhecidas e a novas, baseados em inferências.

Esta capacidade de decidir baseada em memórias, ou no que elas provocam, é uma medida de nossa coerência e também de audácia. A coerência dá às pessoas que convivem conosco uma previsibilidade de como iremos agir. A pior coisa que existe em relação a um companheiro ou companheira é um ato imprevisível de nossa parte. Isto provoca desentendimentos e até o rompimento da relação.

Perda de Memória

E se a memória for perdida ? O sujeito não é mais previsível. Torna-se errante em suas decisões. E se não tem mais esta coerência entre o que é (ou era) e o que decide, perde sua IDENTIDADE. É como se o Tempo que viveu não tivesse existido mais para ele. Para os que o observam, aquele Tempo do indivíduo faz sentido, pois se lembram de sua história, mas ele mesmo não.

Memória e Identidade

Se você perde o seu documento de identidade, e não existe mais forma de levantar quem foi seu pai e sua mãe, ou a data de seu nascimento, ou o local onde nasceu, sua identidade está definitivamente perdida. Esta é a associação entre memória e identidade, e é pela possibilidade de coisa deste tipo acontecer que existe um departamento no estado que guarda as informações de registro das pessoas.

Tempo e Identidade

Portanto, se não houver uma linha do tempo na vida da pessoa (e assim o Facebook chamou o conjunto de posts que a pessoa faz em seu perfil: Linha do Tempo), não há espaço para experiências em uma quantidade razoável para que se analise a sua evolução como indivíduo separado dos outros.

Conclusão

O Tempo é necessário, para que se tenha uma expressão individual de alguém, em um número razoável de situações, para que se possa analisar seu comportamento, previsibilidade, e para que a pessoa possa ser reconhecida pelas informações factuais que ela mesma construiu.
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A razão para a discussão desta relação entre o tempo e a ética neste blog de lógica se deve ao fato do Tempo ser um parâmetro frequente para a análise dos contextos lógicos dos problemas, pois estes últimos sempre surgem no contexto da vida das pessoas. A vida das pessoas é que motivou o nascimento e o estudo da lógica. A Lógica frequentemente analisa o antes e o depois, presentes em quase todos os problemas, desde os sociais até os matemáticos.

Terceira Regra do Silogismo

Vamos relembrar os exemplos apresentados até o momento, quando explicamos a Primeira e a Segunda Regra do Silogismo:

Exemplo 1:

"O cão late" (Caráter Geral)
"Aquele grupo de estrelas é o Cão" (Caráter Particular)
"Logo, aquele grupo de estrelas late".

Exemplo 2:

"Todo animal mamífero tem quatro patas" (Caráter Geral)
"O cão é um animal mamífero" (Caráter Particular)
"Logo, o cão tem quatro patas"

Exemplo 3:

"A Bíblia contém palavras de Sabedoria" (Caráter Particular)
"Alguns Ministros que ensinam a Bíblia são os Pastores" (Caráter Particular)
"Logo, todos os que ensinam a Bíblia são Pastores" (Caráter Geral)

Exemplo 4:

"Todos os arianos estão fadados a dominar o mundo". 
"Ora, nenhum chinês é ariano". 
"Logo, nenhum chinês está fadado a dominar o mundo". 

Repare que, em todos eles, a conclusão contém o "termo médio" (segunda proposição). Esta é a Terceira Regra do Silogismo. No entanto, devemos ir mais longe. A conclusão contém fragmentos, ou até a ideia integral, de ambas as proposições.

Conclusão

Sendo o Silogismo um encadeamento de ideias, expostas em duas proposições. a conclusão deve carregar em sua substância, componentes de ambas.

sábado, 13 de agosto de 2016

Segunda Regra do Silogismo

Vimos na primeira Regra que as proposições mostram uma determinada extensão dentro do conjunto a que se referem.

As proposições Particulares usam o pronome indefinido ALGUNS, e as Gerais usam o pronome indefinido TODOS. Alguns restringe a Espécie/Categoria, referindo-se somente a um subconjunto desta Espécie/Categoria. Todos se refere a todo o conjunto sem deixar dúvidas.

Vejamos o seguinte Silogismo:

"Todos os arianos estão fadados a dominar o mundo". (Particular = Os arianos estão fadados ...)
"Ora, nenhum chinês é ariano". (Particular)
"Logo, nenhum chinês está fadado a dominar o mundo". (Geral)

NENHUM

Nenhum é uma palavra da classe dos pronomes indefinidos. Seu valor é relativo. Na segunda proposição, ele define subconjunto de raças dos chineses em relação aos arianos. Na conclusão o "nenhum" é usado numa generalização, daí seu caráter Geral.

Analisando os conjuntos:



Da primeira proposição, colocamos os Arianos TODOS dentro do conjunto de Dominadores do Mundo. Da segunda proposição, simplesmente colocamos chineses fora do conjunto dos Arianos. Isto basta. Portanto, admitimos que podem existir Chineses dentro do conjunto de Dominadores do Mundo, pois nada foi dito a respeito, como "[TODOS] Os chineses não estão fadados a dominar o mundo".

Desta forma, deduzimos que o Silogismo apresentado é falso, pois a conclusão foi tirada de proposições particulares ou, em outras palavras, de proposições que não especificaram claramente a exclusão dos Chineses do conjunto de Dominadores do Mundo.

E na linguagem visual, que expressa conjuntos, notamos que é possível colocar uma fração de Chineses Dominadores do Mundo porque nenhuma das Proposições deixou claro que isto não possa ser feito.

Outro exemplo

"Existem animais são mamíferos". (Particular)
"Existem mamíferos bípedes [o homem, por exemplo]". (Particular)
"Logo, Todos os animais são bípedes". (Geral)

A primeira proposição pode ser substituída por "Alguns animais são mamíferos". A segunda, de forma análoga "Existem mamíferos bípedes". Ambas são particulares, que em, outras palavras quer dizer que definem subconjuntos dentro de suas espécies. Portanto, a conclusão é falsa.

Os Sofistas enganam as pessoas geralmente ferindo esta segunda regra do Silogismo.

Desenhando os subconjuntos entendemos claramente o Silogismo. Os mamíferos estão dentro do conjunto de animais, obedecendo o que é enunciado pela primeira proposição. Existe uma intersecção entre mamíferos e bípedes, para atender à segunda proposição.

Ao avaliarmos a Conclusão do Silogismo, constatamos que ela é falsa, pois existem outras espécies de animais não bípedes entre os mamíferos, sobre os quais não temos informação do número de patas.

Conclusão

A segunda regra do Silogismo define que de duas proposições particulares não se pode tirar uma conclusão geral.



Primeira Regra do Silogismo

Uma vez que introduzimos os Silogismos, explicando proposições Gerias e Particulares, podemos entrar nas regras. Além de falar sobre a Primeira Regra do Silogismo, vamos explicar como são as sentenças lógicas.

Lógica Simples e Lógica Ponderada

O Silogismo se enquadra na Lógica Simples, pois se constitui, nas sua expressão, de três frases:

  • Primeira proposição;
  • Segunda proposição;
  • Conclusão.
Esta é a primeira regra do Silogismo: Apenas três frases.

Uma forma de analisar Silogismos é acompanhar debates de Internet, pois muitos deles ferem a Lógica, e nos ajudam a aprender os erros de abordagem das situações comuns da vida.

Vamos propor o primeiro caso de análise, extraído de um trabalho de Paulo Margutti ("Breve Resumo das Regras do Silogismo Aristotélico"):

"O cão late" (Caráter Geral)
"Aquele grupo de estrelas é o Cão" (Caráter Particular)
"Logo, aquele grupo de estrelas late".

Não se espante. Achamos proposições utilizando este tipo de lógica (do "nada a ver") em muitos fóruns de Internet, pois a preocupação com a Lógica e com a Filosofia já deixou as escolas há muito tempo.

Explicação

Do ponto de vista do SIMPLES USO DA PALAVRA CÃO, a lógica está correta. Os Silogismos são enunciados com uma proposição Geral e uma Particular, PELO MENOS, como veremos ser consolidado nas regras colocadas nos próximos posts.

Um Silogismo, no entanto, deve ter a sua significação (semântica) corretamente enunciada. A segunda frase deveria ter sido enunciada assim:

"Aquele grupo de estrelas TEM O NOME 'CÃO'"

Um NOME (substantivo próprio) pode designar qualquer coisa. Já uma ESPÉCIE/CATEGORIA (substantivo comum) designa OBJETOS/SERES com atributos/propriedades bem perceptíveis.

Este é o erro mais comum que leva aos Sofismas, ou seja, conclusões aparentemente corretas baseadas em meias verdades.


Não existe intersecção do conjunto de Constelações com o conjunto de Animais. A igualdade de nomes não quer dizer igualdade da Espécie ou da Categoria.

Nos Silogismos, devemos observar se:

Os objetos em análise pertencem à mesma ESPÉCIE/CATEGORIA no Primeiro e no Segundo argumento.

Exemplo válido

"Todo animal mamífero tem quatro patas" (Caráter Geral)
"O cão é um animal mamífero" (Caráter Particular)
"Logo, o cão tem quatro patas"

Neste Silogismo, as palavras "cão" e "mamífero" pertencem, em ambas as proposições, à mesma categoria.

Outro Exemplo com Sofisma

"Eduardo Cunha é político" (Caráter Particular)
"Muitos políticos são corruptos" (Caráter Particular)
"Logo, Eduardo Cunha é corrupto"

A primeira dúvida se daria com a segunda proposição. "Muitos" não deveria ser tomada como de Caráter Geral ?



De forma nenhuma. "Todos" seria de caráter geral. Dizer "muitos" não é o mesmo que dizer "todos". Uma generalização baseada em maioria não é válida. Se sobrarem 5 políticos honestos, ainda teremos um Sofisma, e não um Silogismo correto na observação das "Espécies". Na figura vemos que Eduardo Cunha pode não estar no conjunto dos corruptos. Havendo esta hipótese, o Silogismo não tem validade.

E veremos em outras regras à frente, que de duas proposições Particulares não podemos tirar uma Conclusão de caráter Geral.

Exemplo com Distorção clara

"A Bíblia contém palavras de Sabedoria" (Caráter Particular)
"Alguns pastores são desonestos" (Caráter Particular)
"Logo, não podemos confiar na Bíblia"

Do exemplo anterior já vimos que não podemos tirar uma Conclusão Geral a partir de proposições particulares.

Mas aqui notamos um ruptura flagrante do par Espécie/Categoria. A ligação entre Bíblia e Pastor é a relação Ministrar ou Ensinar. Portanto teríamos que ter:

"A Bíblia contém palavras de Sabedoria" (Caráter Particular)
"Alguns Ministros que ensinam a Bíblia são os Pastores" (Caráter Particular)
"Alguns pastores são desonestos" (Caráter Particular)
"Logo, não podemos confiar na Bíblia"

O Silogismo, pela nossa primeira Regra, não trata de 4 proposições, mas tão somente de três. Vamos então analisar o primeiro Silogismo da cadeia:

"A Bíblia contém palavras de Sabedoria" (Caráter Particular)
"Alguns Ministros que ensinam a Bíblia são os Pastores" (Caráter Particular)
"Logo, todos os que ensinam a Bíblia são Pastores" (Caráter Geral)

Como não podemos fazer uma dedução de Caráter Geral de duas proposições Particulares, a Conclusão, já na primeira parte da análise, é FALSA.

Conclusão

A primeira Regra exige a análise de um problema complexo a partir de "ternos" compostos de duas proposições, colocadas respeitando ESPÉCIES/CATEGORIAS em sua formulação, com uma conclusão de caráter Geral.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Proposições gerais e o pronome indefinido todo/todos - Introdução ao Silogismo

Antes de entender as regras do Silogismo, é preciso entender a categoria de Proposições denominadas Particulares. Isto vale para a discussão de "alguns" (post anterior) e de "todos".

O significado de Todos

Não é comum ver, entre as proposições lógicas, o uso do pronome indefinido "todos". Ela deve ser5 subentendida nos conceitos, como na frase:

O cão late

Sabemos que "latir" é uma atribuição peculiar ao cão. Ao falarmos que "O cão late", estamos dizendo implicitamente:

Todos os cães latem

Quando nos referimos a uma espécie, a abrangência é de todos os elementos daquela espécie.

Representação gráfica



Como se vê no diagrama, o conjunto dos Animais que latem é totalmente preenchido pelos Cães. Outros animais cuja manifestação sonora poderia ser tomada como um latido, como Chacais, Lobos e Coiotes realmente não latem, e sim uivam.

Em nosso caso, todos os animais que atendem aos característicos de cão latem.

Proposições particulares e o pronome indefinido algum/alguns - Introdução ao Silogismo

Antes de entender as regras do Silogismo, é preciso entender a categoria de Proposições denominadas Particulares.

O significado de Alguns

É comum ver, entre as proposições lógicas, o uso do pronome indefinido "alguns":

Alguns profissionais são dentistas

Esta é uma proposição restritiva, que define, sob a ótica da Teoria dos Conjuntos, um subconjunto.

Representação gráfica

Existem duas representações gráficas para um tipo de afirmação como esta:

Representação por intersecção de conjuntos

Representação pelo maior conjunto


Ambas as representações são válidas, no entanto, a primeira se presta mais aos Silogismos, como veremos quando estivermos analisando as suas regras. No caso de Profissionais, como cada um já tem uma capacitação definida, definir um conjunto de profissionais não é bem o caso. O correto seria ter os vários conjuntos de profissionais com a denominação específica cercado por uma região. Isto ficará mais claro no próximo exemplo.

Segunda afirmação

Alguns Dentistas são Pintores.

Representação pela Intersecção

Dentistas e Pintores ajudam a compor
um grande conjunto de Profissionais


Esta quarta representação (lado direito) é a mais condizente com a abordagem semântica de "Profissionais" sob o ponto de vista da Teoria de conjuntos, e é mais útil e precisa na compreensão dos silogismos.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Primeiras noções sobre Entendimento, por John Locke

O que será lido aqui é fruto do raciocínio de um filósofo cuja atividade mais profícua se deu nos anos 1650-1690. Vocês mesmos vão avaliar sua agudeza de pensamento.

O Entendimento e a Visão

O Entendimento, como o Olho, que nos faz Ver e Perceber todas as outras coisas, não se observa a si mesmo. Requer arte e esforço situá-lo à distância e fazê-lo seu próprio objeto.
Temos que observar o nosso Entendimento de fora. Podemos observar duas pessoas conversando algo ambíguo, e ver nesta conversa as nossas próprias deficiências de expressão.
Em resumo, isto nos colocaria diante da pergunta:
Você percebe qual é o seu método de pensamento ?

A Extensão de nossa Compreensão

Locke fala do nosso controle nas discussões.
O indivíduo deve usar mais cautela quando se envolve com coisas que excedem a nossa compreensão, PARAR quando o assunto é muito extenso para as nossas forças e PERMANECER EM SILENCIOSA IGNORÂNCIA acerca dessas coisas cujo exame revelou estarem fora do alcance de nossas capacidades.
Isto é facilmente percebido em conversas sobre a medicina e a fé, pois envolvem fatores que agem diretamente na vida humana e na alma.

O Entendimento e a Presunção

Se o nosso Entendimento for prejudicado pela nossa Presunção de um conhecimento Universal (Ciência e Verdades adquiridas), estaremos sendo precipitados, e então entraremos em DISPUTAS SOBRE COISAS PARA AS QUAIS NOSSOS ENTENDIMENTOS NÃO SÃO ADEQUADOS, e das quais não podemos formar em nossas mentes nenhuma percepção clara e distinta.

Isto ocorre frequentemente quando tentamos aplicar Princípios de um campo do Conhecimento em outro completamente diverso. Um bom exemplo é o esforço infrutífero de pesquisar os campos magnéticos produzidos pelos diversos humores da alma. Tal é o caso das FOTOS KIRLIAN, para as quais existem aplicativos de celular. É algo que induz o ser humano ao engano, e que vai prejudicar seu raciocínio sobre estes dois campos: CIÊNCIA e VIDA.

Outra Confusão viria da tentativa de pesquisar os Campos magnéticos/energéticos da Ética e Conduta humana. É preciso ter o senso de ridículo, para não pularmos do Entendimento para a Loucura.

Se pudermos descobrir até onde o Entendimento pode se estender, e até onde suas faculdades podem alcançar a Certeza, e em quais casos ele pode apenas JULGAR, TEORIZAR e ADIVINHAR, saberemos nos contentar com o que é alcançável por nós em uma situação.


O Entendimento e o Contexto

Os homens deveriam estar bem satisfeitos com o que a Natureza pensou que lhes era adequado, pois esta lhes deu, como diz São Pedro,TUDO O QUE É NECESSÁRIO PARA AS CONVENIÊNCIAS DA VIDA e informação da virtude, e colocou ao alcance de sua descoberta PROVISÃO SUFICIENTE PARA ESTA VIDA e o meio que leva para uma vida melhor.

Em resumo, tudo o que precisamos para compreender o mundo está no próprio mundo. O mundo fornece as ferramentas necessárias para a solução de problemas que nele aparecerem.

Às preocupações humanas mais importantes dos homens é assegurada luz suficiente para alcançar o conhecimento da natureza e de seu Criador.

Sobre nossas limitação mentais

Não teremos motivos para nos queixar da estreiteza de nossas mentes se as empregarmos tão somente no que nos é utilizável e para o que são muito capazes; pois nos será apenas imperdoável, como impertinente criancice, se menosprezarmos as vantagens de nosso conhecimento e descuidarmos de aperfeiçoá-lo para os fins aos quais nos foi dado, porque certas coisas se encontram fora do seu alcance.

Ou seja, se não atingimos o grau de conhecimento necessário para compreender um determinado contexto de um problema, não devemos nos lamentar de não sermos capazes de resolvê-lo naquele momento, abandonando-o por completo, e diagnosticando nossa mente como incapaz. Devemos pacientemente procurar mais conhecimento sobre o assunto.

A Vela que foi colocada em nos brilha o suficiente para todo os nosso Propósitos

Tal estado de incapacidade (temporária) da nossa mente, de imaturidade frente às verdades mais superiores da vida , pode ser exemplificada na situação do jovem, durante sua vida escolar, aprendendo aqueles problemas redutíveis às equações do primeiro grau, quando é colocado frente aos avançados conceitos de DERIVADAS e do CÁLCULO INTEGRAL. Tais conceitos, naquele momento, parecem inalcançáveis e até irreais, do quilate de mitos, de poderes sobrenaturais, mas apenas pelo fato da sua mente não estar suficientemente preparada para lidar com uma manipulação abstrata tão elaborada. É como uma espécie de cegueira matemática (falamos disto em "Entendimento e Visão") temporária, uma falta de base com apoios adequados para sustentar sua Compreensão.

Descrença

Se descrermos de TUDO porque não podemos conhecer rigorosamente TODAS as coisas, deveríamos fazer igual AQUELES QUE NÃO USAM AS PERNAS, PERMANECENDO PARADOS E MORRENDO, pelo fato de QUEREREM VOAR E NÃO TEREM AS NECESSÁRIAS ASAS.

Ou seja, porque não admitir que, naquele momento da vida, você não tem a maturidade necessária para compreender determinadas verdades ?

O poder da mente

Quando tivermos examinado com cuidado OS PODERES DE NOSSAS MENTES, e feito alguma avaliação acerca do que podemos esperar deles, não tenderemos a ficar inativos, deixando de por nossos pensamentos em atividade, pelo DESESPERO DE NADA CONHECERMOS; nem, por outro lado, poremos tudoem dúvida e renunciaremos a todo conhecimento, porque algumas coisas são compreendidas.

É de grande utilidade para o marinheiro saber a extensão de sua linha, embora não possa com ela sondar vtoda a profundidade do oceano. Nosso conhecimento não cobrirá toda a extensão das coisas que devem ser compreendidas, mas pelo menos servirá para medir aquilo o que é do nosso uso comum.

Opiniões, Disputas e Descrença

Não é de admirar que os homens levantem questões e multipliquem disputas acerca de assuntos insolúveis, servindo apenas para prolongar e aumentar suas dúvidas, e para confirmá-los, ao fim, num PERFEITO CETICISMO.

Por isto, devemos restringir nossas perguntas a um horizonte próximo, antes de avançar para o seguinte. Vamos a um exemplo. Perguntar onde está Deus é algo muito distante. Devemos primeiro entender a alma. Mas se a compreensão desta se torna muito distante, devemos procurar compreender o Caráter e a Personalidade do Ser Humano, antes de tentar atingir a Alma que lhe dá a vida, que mesmo num corpo sadio, pode deixar de existir.

O homem deveria reconhecer a sua IGNORÂNCIA acerca de umas coisas, e empregar seus pensamentos e discursos com mais proveito e satisfação na resolução de outras.

Conclusão

O homem deve compreender seus limites em relação ao entendimento de todas as coisas.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

As Ideias e o seu aproveitamento conforme John Locke

Quem não conhece John Locke, procure sua biografia, ou seu livro da recente coleção GRANDES NOMES DO PENSAMENTO editado pela Folha de São Paulo.

Muitas das técnicas utilizadas nas escolas de ontem e hoje tem este filósofo como idealizador.

As Ideias

Vamos colocar a visão de Locke na forma deste gráfico:


Esta é a esquematização da Introdução do livro deste grande autor "Ensaio acerca do Entendimento Humano".

A Ideia

Na visão do autor, a IDEIA é qualquer coisa que passe pela cabeça, melhor dizendo MENTE, do ser humano. Ele as denomina OBJETOS DO PENSAMENTO. É qualquer coisa dominada ou não pela visão ou tato, ou ainda algo virtual que não seja tocado ou visível (como emoções, sensações, conceitos, etc).

Segundo Locke, o método para chegar ao entendimento envolve 3 processos:


  1. Procurar as origens da Ideia, noção, conceito que caiba em Objeto do Pensamento;
  2. Mostrar qual o conhecimento associado a esta Ideia;
  3. Fazer uma investigação acerca da natureza ou opiniões acerca desta Ideia;

1 - Origens

As origens estão enumeradas no diagrama, e devemos fazer uma ressalva, lembrada pelo teórico John Dewey ("Como Pensamos"). Muito cuidado com Ideias originadas de vínculos não necessariamente lógicos, como tradições da tribo, tradições de família e consensos sociais, pois nem sempre estas origens são confiáveis.

As fontes citadas aqui são:

  1. Narração do descobrimento da Ideia;
  2. Fato histórico/social que estabeleceu a Ideia;
  3. Derivação de uma Ideia já existente:
    1. Substantivação;
    2. Adjetivação;
    3. Alteração de Contexto


Na narração do descobrimento está, por exemplo, o fenômeno da Radiação, quando Pierre e Marie Curie fizeram seus experimentos com o elemento Radio.
Em fato histórico/social estão coisas como a primeira e segunda guerra mundial, o 11 de setembro (onda de terror).
Nas derivações de ideias, temos que explicar a alteração de contexto. Por exemplo, existe o pisar na bola no futebol. Nas relações conjugais ou de amizade, o pisar na bola seria uma Traição, uma Mentira, etc.

Vínculos não necessariamente lógicos
Estes são os descritos por Dewey, e que complementam Locke. Os exageros estão entre eles. Um muito comum, utilizado em discussões sobre existência ou não de Deus é:

"Se acreditar em Deus vou ter que acreditar em fadas, duendes, unicórnios e discos voadores"

Sobre Deus, a capacidade de experimentação científica ainda não dá condições de negá-lo, pois se apresenta como espírito. Nem sequer a alma foi mostrada como algo palpável. Fadas são metaforizações de pessoas boas, mulheres piedosas e bondade. Duendes tem uma caracterização parecida, personificada em seres diminutos. Unicórnios podem ser gerados via engenharia genética, como o rato em que fizeram nascer uma orelha humana. Discos voadores não foram provados como não existentes. O que mais se tem evidência é que existem. Portanto, a frase é só uma piada sem sentido.

2 - Conhecimento

Nosso fraco e falho Conhecimento das coisas, devido às exceções de Dewey, nos leva aos três tipos de Ideias mostrados no diagrama:

  • Ideia Correlata;
  • Ideia Parecida;
  • Ideia Enganosa;

O leitor deve estar se perguntando a respeito do porquê de termos enumerado as "Ideias Enganosas" no rol das categorias do conhecimento. Basta ler as respostas imbecis dadas em blogs, no Youtube e outros para ver que precisamos incluí-las, já que as opiniões muitas vezes contém este tipo pernicioso de conteúdo. O exemplo de Deus e dos duendes é algo do tipo. O erro de tal ideia é a mistura de contextos (espiritual com mitológico). Chamamos a mistura de lógica e absurda de "falso conhecimento". Outros chamariam de infantilidade, e outros de "conhecimento podre".

As ideias enganosas podem vir de metáforas e de trocadilhos. Por exemplo, "Tempo é Dinheiro" nem sempre é verdade, como no caso de fatos e eventos de caridade, amizade, afeto, amor, etc. O trocadilho

"O cachorro late, o gato mia, o coelho pula e a batata palha"

não estabelece uma verdade. É apenas uma colocação de pares substantivo/verbo, que no final é trocada por substantivo/adjunto adnominal.

"Socialite é um sócia que não engorda"

não estabelece verdade, nem é uma definição válida, apenas uma oposição de ideias.

"Em festa de cobra, veneno é suco"

não é uma verdade, apenas contém a representação das pessoas perversas pelo animal cobra, e se refere à uma bebida de festa como podendo ser o veneno deste animal. É uma comparação absurda, nada mais.

Todos estes são exemplos de verdades enganosas, que misturam realidade e fantasia, com o puro propósito de promover a arte com a escrita.

3 - Investigação

A Investigação é uma experimentação de conhecimentos, que para produzir resultados criativos deve ser livre, pois às vezes os melhores resultados saem das combinações mais absurdas. Estamos nos referindo às combinações de Ideias Enganosas com as Ideias Correlatas ou com Ideias Parecidas.

Um bom exemplo foi a primeira concepção da Tela de TV. Foi utilizada a Ideia do olho humano. No entanto, o olho RECEBE imagens do mundo exterior, e a Tela de TV emite imagens para o exterior. Mas o princípio de detecção por células sensíveis à cor no olho, foi aplicado aos pontos emissores de luz. Ou seja, ocorreu a utilização de princípios contrários, e deu certo, Detecção se opõe à Emissão. São Ideias opostas, porém correlatas.

A Investigação é o nome que damos às múltiplas experimentações que fazemos com os três tipos de Ideias que relacionamos no diagrama, conforme ilustrado.

Algo desta espécie ocorreu na investigação do Eletromagnetismo. A eletricidade era uma Ideia associada à excitação dos corpos de forma à acumular cargas positivas ou negativas. O magnetismo se associava à atração de "estranhas pedras" ao ferro. Não havia associação entre ambos. A mente humana, ao conceituar e definir as coisas pode se exceder em separar demais uma coisa das outras. Mas quando se descobriu que o movimento dentro de um campo magnético produzia eletricidade, constatou-se que estas duas ideias estavam ligadas no eletromagnetismo. Ou seja, duas ideias aparentemente distantes se mostraram correlatas.

O que estes pares de Ideias produzem, antes que se confirmem verdadeiros, são Opiniões somente. Poderíamos ter triplas de Ideias. E devemos ter cuidado com as opiniões, pois podem se configurar em verdadeiras superstições ou associações aparentemente verdadeiras à primeira vitsa.

Alguns exemplos são, no campo da alimentação, o aparente mal que poderia fazer a associação de leite com manga ao mesmo tempo, comer mais de um ovo por dia e tomar café demais. Todas estas crenças duraram muitos anos, sendo que a última durou até recentemente. Isto porque não se fazia as experimentações corretas, e as gerações iam passando o falso conhecimento porque lhes parecia bem razoável como VERDADES HERDADAS.

Escolha das Opiniões

Como mostra o diagrama, certos pares de ideias não forneceram opiniões, porque certamente são associações muito absurdas. Um caso estranho seria o par IC2 e IC3, pois é um par de ideias correlatas à que está sendo discutida. No entanto, as duas juntas não levam a nenhuma conclusão, e vão precisar de uma terceira que as conecte.
É como numa discussão, onde as pessoas colocam ideias associadas ao assunto, mas que juntas não formam algo coeso que leve a nenhuma direção. Daí é necessária uma tríade de ideias.

Cuidado com as suas opiniões

Devemos submeter as opiniões à Investigação, lembrando que, num determinado momento, as provas podem ser suficientes, e algo é provado como FACTÍVEL, porém não EXISTENTE. E, mais tarde, com novas Investigações, chegamos à prova do Existente. O INEXISTENTE, porém, é mais difícil de provar, pois sempre teremos novas Associações ou novas Ideias. E o surgimento de novas Ideias multiplica sobremaneira as Associações possíveis. Portanto, cuidado com as suas Opiniões, pois podem se constituir em VERDADES ADQUIRIDAS e sobreviverem aos tempos, como o leite com manga.

O melhor diagnóstico sobre esta visão do método investigativo de Locke é a frase de um aluno de Filosofia em sala de aula:

A Ciência é muito boa para provar a Existência,
mas absolutamente falha para provar a Inexistência

As melhores conclusões saem da boca dos principiantes, por não estarem carregados de ideias pré-fabricadas.